
Vem, a luz tá acesa.





Seu ninho era quente, e mesmo que emaranhado de espinhos, era confortável e carecente. Mas quando seus ossos começaram a esticar, as dores apareceram por toda parte e minúsculo ficou o espaço para que seus ossos pudessem tomar forma. Somente um sutil bater de asas poderia acariciar seus penares, mas não queria aprender a voar. Suas asas estavam cortadas por amor e na garganta sentia a dor das palavras presas. A pequena menina já não era tão pequenina, mas seus olhos continuavam os mesmos, mas naquele momento estavam fixos e perdidos. Sem horizontes e sem ternura. Estava imóvel e frágil como um jarro de cristal. Ela não conseguia mais permanecer à margem de si mesma e de colos rompidos pelo silêncio. Pegou impulso, esticou as asas de porcelana e foi num fluxo de vento atormentante que lançou-se ao mais profundo abismo aterrador. Espatifou seu coração em milhares de pedaços estrídulos. Ali estava seu velório. Desfalecida em seu próprio berço gemia a dor da morte. Assassinou a criança que existia em cada célula e descobriu que crescer era um torturante palco de luz, a distância era um grito vermelho. Seu peito estava dilacerado e nada, nenhuma dor, nenhum ser humano havia causado amputação parecida a qual pudesse ser similar ao corte profundo que ela mesma feriu-se."Todos nós nascemos originais e morremos cópias." (Jung)